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O mundo dos nutrientes

Na fase de elaboração de um sobre alimentação saudável, procuramos abordar um tema que, apesar de ser trabalhado, de forma intrínseca, em alguns conteúdos de sala de aula, precisava de um destaque, pois se tratava da promoção de uma qualidade de vida para aquelas crianças, e nós tínhamos certeza que traria pontos muito positivos na vida  delas. E, para isso, não haveria melhor lugar do que a escola, pois, como é retratado na Portaria Interministerial Nº 1.010, de 8 de maio de 2006,

A educação é, sabidamente, condicionante de modos de vida saudáveis e, tratando-se de alimentação, a escola representa um espaço privilegiado para não somente a formação de hábitos salutares, mas também para a consolidação de identidades culturais alimentares, pedagogicamente construídas (BRASIL, 2006).

Então, decidimos que o nome do projeto seria O mundo dos nutrientes, com atividades a serem desenvolvidas baseadas nas teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky.

O projeto foi desenvolvido no CMEI Antonia Fernanda Jalles, e caiu como uma luva na turma de nível III, matutino, crianças de 4 e 5 anos, da professora Joana D’arc. A equipe gestora nos relatou sobre a dificuldade que essa turma tinha de se alimentar no CMEI. Ao tomarmos conhecimento dessa realidade, o passo seguinte foi conversar com a professora da sala, que nos confirmou ter mesmo essa dificuldade. O desafio nos motivou. Nós queríamos mudar aquela situação.

Nos primeiros contatos com a rotina das crianças, percebemos que muitos recusavam o desjejum e também o almoço, algo aparentemente sem motivo, pois todas as refeições oferecidas eram muito bem-servidas e preparadas, seguindo um cardápio com orientação de uma nutricionista, em consonância com a Lei Municipal de Natal Nº 245, de 16 de agosto de 2006, que regula a promoção da alimentação saudável no âmbito das escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada do município, e dispõe sobre padrões técnicos de qualidade nutricional a serem seguidos pelas lanchonetes e similares instaladas nas referidas escolas.

Para que as crianças pudessem compreender os benefícios de se ter uma alimentação saudável, pensamos, a cada semana, em trabalhar uma parte da pirâmide alimentar, com o objetivo  de promover o consumo de frutas, legumes e verduras; investigar o valor nutritivo dos alimentos e despertar o gosto por eles; observar as cores e perceber os sabores e texturas dos alimentos e entrar em contato com textos de diferentes gêneros (receitas, listas e rótulos).

Assim fizemos, e vimos também a necessidade que aquelas crianças tinham de não somente aprender os benefícios de uma alimentação saudável e passar a ter interesse em comê-la, mas também de conhecer aquela comida. Então, resolvemos promover em nossas atividades a culinária e a degustação de alimentos.

PURÊ DE BATATA/CULINÁRIA/PLANTIO

Para darmos o pontapé inicial no nosso projeto relacionado à alimentação e, como optamos, apresentarmos cada fragmento da pirâmide alimentar, começamos falando sobre a base, que é constituída por cereais, massas, tubérculos, raízes etc. Promovemos uma culinária para preparação de um purê de batata feito pelas crianças.

O objetivo dessa atividade foi despertar a curiosidade sobre a origem dos alimentos, o que podemos fazer com a batata e o porquê de sua utilização. Percebemos o quanto foi rica aquela experiência e aprendizagem, pois as crianças puderam conhecer um pouco mais sobre a batata: tocar, cheirar, comer e transformar. Muitas não faziam ideia que o purê vinha da batata.

As crianças ficaram muito felizes em comer algo feito por elas. Todas falavam realizadas: “Tia, ficou muito gostoso”. Realizamos essa atividade em grupo, cada um participou, compartilhou, cooperou e ajudou o colega que não conseguia amassar a batata. Atividades em grupo são riquíssimas. “Estudos sobre a dinâmica na sala de aula têm evidenciado o quanto as práticas em grupo favorecem o processo educacional e dinamizam relações de cooperação” (CARVALHO, 2004, p.32).

Nessa prática, foram trabalhados diversos conteúdos: linguagens, matemática, ciências naturais e motricidade. As crianças puderam desenvolver um pouco da sua autonomia e se sentirem capazes. Muitas ficaram ansiosas para chegar em casa e contar à mãe que aprenderam a preparar purê e como era a receita; e realmente fizeram isso. Alguns pais comentaram sobre o quanto o filho ficou realizado em ensiná-los, pois alguns confessaram que não tinham ideia como o purê era feito.

No outro dia, promovemos outra atividade prática com as crianças. Realizamos um plantio de batatas. Antes, porém, ensinamos os benefícios que elas nos proporcionam e de onde elas veem. As crianças ficaram curiosas em saber de onde elas surgiam. Separamos algumas batatas, que já estavam preparadas para o plantio, e organizamos os alunos para irmos a uma parte da escola onde pudéssemos realizar a atividade. Colocamos aventais em todas, para evitar que se sujassem, e entregamos regadores, para que, logo após o plantio, colocassem a água, demonstrando que a batata precisa de água e luz para sobreviver.

DEGUSTAÇÃO DE FRUTAS ÀS CEGAS

Quando introduzimos a segunda parte da pirâmide alimentar, as frutas, resolvemos fazer uma “degustação às cegas”. Vedamos os olhos de todas as crianças. Em seguida, colocamos em pratos frutas como mamão, laranja, melão e maçã. Foi uma experiência riquíssima, pois as crianças sentiam  curiosidade, cheiravam, comiam, tentavam adivinhar o que tinha no prato. O que nos deixou muito felizes é que nenhuma sentiu receio em comer, comiam e gostavam. Então, o nosso principal objetivo, ao realizar a atividade, foi alcançado: fazer com que as crianças conhecessem o que estavam comendo.

Após todas as crianças terem participado da “degustação às cegas”, deixamos os pratos com as frutas para que elas pudessem comer e, para nossa feliz surpresa, alunos que sempre recusavam alimento estavam comendo e dizendo: “Tia, é muito gostoso, uma delícia”. O que muito nos alegrou, pois as crianças puderam mudar de pensamento, como afirmava Piaget: “A criança reconstrói suas ações e ideias quando se relaciona com novas experiências ambientais.”

Nesse processo, percebemos o quanto está sendo positivo o desenrolar desse projeto na vida dessas crianças, pois já notamos mudanças de hábitos, e um maior prazer em comer o que é oferecido no CMEI. Ouvimos frases como: “Tia, não esqueça o alimento”; “Tia, olha, eu trouxe uva pra comer”, e estamos falando de crianças que gostavam de comer apenas guloseimas. O resultado, até o presente momento, está sendo bastante satisfatório e esperamos que, ao fim do projeto, seja ainda maior e permanente.

Considerações finais

Percebemos um pequeno avanço durante as refeições, mas temos muito o que produzir com atividades de incentivo para elas.

Sabemos que, atualmente, promover a adoção de hábitos alimentares saudáveis não é fácil, mas também não é impossível. Vivemos em uma sociedade acostumada a comer mal e que consome alimentação industrializada, responsável pelos altos índices de obesidade infantil. Quando se fala em alimentação, sabemos que o momento ideal para a aquisição de comportamentos adequados é na infância.

Nós, educadores, devemos buscar métodos que incentivem nossos alunos a terem um hábito alimentar saudável, que ajude no desenvolvimento escolar, trazendo os benefícios e malefícios dos alimentos que comemos, tanto em casa quanto na escola. Queremos sempre levar esses alimentos para dentro da sala e fazer com que as crianças aprendam vivenciando na prática.