As cem linguagens da criança e a aprendizagem da língua escrita
As crianças entram no universo letrado pela convivência prazerosa com o mundo da leitura e escrita. Atentas aos múltiplos sentidos sociais desta linguagem, iniciam uma jornada que passa pelo estabelecimento de hipóteses sobre a escrita e o seu funcionamento. É o que preconiza a Psicogênese da Língua Escrita, obra que mudou a perspectiva de como a criança aprende a ler e a escrever, escrita pelas pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky. O livro chegou ao Brasil na década de 80, e desde então, provoca debates em torno do processo de alfabetização.
“As crianças são curiosas, vão começar a notar as letras, as semelhanças e diferenças das palavras e sons. Vão percebendo a utilidade da escrita pelas ações cotidianas dos usuários e isso vai ajudando a construir sentido da função social da escrita e entendimento de como funciona o código alfabético. A instituição escolar, no caso das crianças pequenas, as creches e pré-escolas, são espaços privilegiados para o contato frequente e sistemático com a língua escrita, pelas suas diversas possibilidades de uso real, em situações sociais. O que não defendemos na Educação Infantil é o ensino do código escrito se sobrepondo a todas as outras linguagens”, explica Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social e consultora do Paralapracá.
Tecnologia social aprovada pelo Ministério da Educação, o Paralapracá se apoia nas ideias de especialistas na área, além de experiências de referência como a de Reggio Emilia, na Itália. “A criança se comunica com o corpo, com gestos, desenhos, de diversas formas. São as cem linguagens da criança, como aborda Loris Malaguzzi. Então, ela tem que ser exposta a todas as possibilidades de expressão que existem, inclusive a escrita, como meio de comunicação”, afirma Maria Thereza.
A consultora do Paralapracá exemplifica uma série de situações cotidianas que podem ser realizadas junto com as crianças e que promovem o contato com o mundo da leitura e escrita, como a escrita de uma receita apreciada pelas crianças, os bilhetes enviados para a família, registro das regras de um jogo. Ou ainda, quando a criança resolve escrever para alguém, ao modo dela. “Quanto mais portadores de língua escrita (jornais, receitas, revistas etc.) forem utilizados, melhor. Assim, a criança vai percebendo as variadas possibilidades de uso da língua [escrita] e da necessidade de adequá-la, não só ao contexto, como ao portador”, conclui. E, no caso da literatura, diz Maria Thereza, “a criança tem de se aproximar pelo prazer, pela fruição. A literatura é uma excelente forma de contato com a língua, que fascina as crianças e promove um vínculo positivo delas com os processos de leitura e escrita.”
Paralapracá
Desde sua concepção, o Paralapracá vem defendendo ideias como estas, colaborando para a compreensão do lugar da leitura e escrita na Educação Infantil construindo, inclusive, um posicionamento sobre o tema, que passou a ser referência nas redes municipais de Educação Infantil parceiras. (veja também: A leitura e a escrita na Educação Infantil, reflexões e a visão do projeto Paralapracá)
Os Cadernos de Orientação e de Experiências do eixo formativo Assim se Faz Literatura, também trazem boas referências sobre a abordagem defendida pelo programa.
Além disso, o Paralapracá tem promovido a participação dos seus colaboradores em eventos formativos relacionados ao tema. Um bom exemplo foi a presença de representantes da equipe Paralapracá no V Seminário de Leitura e Escrita na Educação Infantil, realizado pela UFMG (CEALE), UNIRIO e UFRJ, no final de 2016. Na ocasião, especialistas de todo o país dialogaram sobre a importância da formação dos professores de Educação Infantil da rede pública brasileira, assim como o acesso aos materiais pedagógicos produzidos para este segmento, como a coleção “Leitura e escrita na Educação Infantil”, do Ministério da Educação, 2016, em parceria com a UNIRIO, UFMG e UERJ.
O Programa
O Programa foi realizado pela Avante – Educação e Mobilização Social em dez municípios do Nordeste, à época como parceira técnica do Instituto C&A. Possui dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de Educação Infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores. No segundo ciclo, que correspondeu ao período de 2013 a 2017, cinco municípios integraram o projeto: Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE). Em 2017, o foco do Programa é o fortalecimento das políticas públicas municipais de Educação Infantil, juntamente com a sustentabilidade dos processos formativos nas redes municipais parceiras.
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