Educação infantil em Reggio Emilia está praticamente universalizada
Reggio Emilia (Itália) – Situada no norte da Itália, na região da Emília Romana, a cidade de Reggio Emilia ficou particularmente conhecida por produzir um bem bastante diferente de commodities icônicas locais como o queijo Parmegiano Reggiano ou o presunto de Parma. Reggio Emilia entrou no mapa por prover à sua população de 0 a 6 anos um dos melhores serviços de educação infantil do mundo.
Com uma população residente de 173 mil pessoas, Reggio Emilia praticamente universalizou a educação infantil, dispondo de uma rede pública e comunitária de escolas que responde por quase a totalidade do atendimento à população de creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 5/6 anos). “A cobertura na cidade abrange 100% das crianças cujas famílias desejam e precisam ter seus filhos na educação infantil”, sintetiza Luna Sassi, secretária de educação da cidade.
A educação infantil não é obrigatória na Itália. Sua atribuição está vinculada ao município, na faixa etária dos 0 aos 3 anos, e ao governo federal, na faixa de 4 a 6 anos, que é também o responsável pelo ensino fundamental. Em Reggio Emilia, porém, praticamente todo o serviço de educação infantil foi municipalizado, cobrindo 40% da população de 0 a 3 anos e 86% das crianças de 0 a 5/6 anos. “As crianças que não integram a educação infantil estão fora por opção das famílias e são cuidadas por elas”, explica Luna.
A população de crianças de 0 a 6 anos de Reggio Emilia é da ordem de 10 mil pessoas, sendo 4.469 na idade de 0 a 3 anos e 5.604 com entre 4 e 6 anos. Uma parcela significativa de crianças provém de famílias de imigrantes africanos, chineses ou do leste europeu.
No cômputo geral, 17% da população de Reggio Emilia é composta por imigrantes, que são responsáveis, em grande medida, pelo aumento populacional acelerado da cidade para os padrões locais. A população de Reggio Emilia cresceu de 130 mil habitantes em 1986 para 173 mil em 2012 e se tornou exemplo na Europa de acolhimento cultural, segurança e coesão social.
A secretária municipal de educação explica que a educação infantil consome 17% do orçamento do município, mas que isso não é visto como uma despesa, mas como um investimento. “Depois da Segunda Guerra Mundial, Reggio Emilia era uma das cidades mais pobres da Itália e hoje é uma das primeiras cidades italianas”, afirma a dirigente. A renda da mulher, por sua vez, também está entre as maiores do país.
A história da educação infantil em Reggio Emilia remonta justamente ao final da Segunda Guerra Mundial. A região era uma das mais destruídas da Itália e, terminada a guerra, a população remanescente se reuniu para discutir como faria a reconstrução, decidindo por construir coletivamente um equipamento público que simbolizasse esse momento de virada.
Uma das propostas apontava para a construção de um novo teatro, que traria lazer e fruição cultural num momento em que as pessoas se encontravam tão profundamente fragilizadas. Outra corrente situava as crianças em primeiro plano e propunha a criação de uma escola de educação infantil.
A corrente pró-escola defendia que o desenvolvimento nos primeiros anos de vida é preponderante na formação do indivíduo e foi soberana. Assim, pais, tios, avós e outros cidadãos ergueram a primeira escola da cidade.
Entre os líderes do movimento estava o educador Loris Malaguzzi (1920-1994), considerado o patrono da abordagem de educação Infantil de Reggio Emilia, hoje completamente sistematizada e difundida pelo Instituto Reggio Children – Centro Internacional pela Defesa e Promoção dos Direitos e Potencialidades de Todas as Crianças.
Conhecida como “abordagem Reggio Children”, a metodologia se baseia em princípios de respeito, responsabilidade e participação na vida comunitária. A exploração e a descoberta, em um mundo seguro e enriquecedor, estão entre os pilares do programa, que privilegia o desenvolvimento da criatividade e do senso estético e é pautada pelo respeito na relação com a criança pequena. “Em Reggio Emilia, as crianças são cidadãs desde o princípio”, assinala a secretária Luna Sassi.
Segundo ela, os efeitos da abordagem Reggio Children são percebidos a olhos vistos na cidade, cuja população se destaca pelo potencial criativo e pela capacidade de trabalhar em equipe. “Isso virou uma força cultural e econômica para a cidade”, percebe a dirigente.
Luna explica que a forte crise econômica que afeta a Europa obrigou Reggio Emilia a estabelecer um sistema de contribuições para complementar o orçamento das escolas, escalonado conforme a renda das famílias. As contribuições variam de 63 a 540 euros por mês, com alguns casos de gratuidade completa. O custo total de uma criança em uma creche em Reggio Emilia é de 892 euros por mês, enquanto o custo na pré-escola é de 677 euros.
“As crianças que estão em situação de vulnerabilidade social são as primeiras a serem atendidas e há um trabalho de apoio às suas famílias também”, diz Luna. “Em Reggio Emilia, dizemos que a educação é um bem público como a água, então ela precisa ser desfrutada em iguais condições por todos”, arremata.
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