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29/08/2014 | 10:59

Reggio Emilia é referência imperdível para educadores e gestores públicos

2014_29_08cOlinda (PE) – No dia 13 de agosto, durante o V Encontro de Formação e a II Formação Itinerante do projeto Paralapracá em Olinda, uma plateia atenta acompanhou a apresentação de Paula Strozzi e Vanna Levrini, educadoras do Centro Internacional Loris Malaguzzi, da cidade italiana de Reggio Emilia, que é referência mundial no serviço público de educação infantil.

As educadoras levaram ao evento um pouco da história da cidade e da trajetória de respeito à criança, contando como a população de 0 a 6 anos é compreendida naquela localidade. Elas também explanaram como são feitas as articulações de políticas públicas para a infância na cidade italiana.

Com base na trajetória de Reggio Emilia, as educadoras ressaltaram a importância de cada comunidade valorizar a própria história e a experiência local. Somente então, afirmaram, a escola pode ser apresentada como um lugar de vida onde as crianças, juntas, construam uma cultura que interaja com a comunidade.

Para exemplificar a interação entre infância, escola e comunidade, as educadoras falaram sobre um famoso evento promovido em Reggio Emilia, o Reggionarra. Realizado anualmente, o evento transforma a cidade em um grande palco de contação de histórias e espaço para exposição das produções das crianças durante um final de semana inteiro.

Em maio de 2013, os participantes do intercâmbio promovido pelo Instituto C&A à cidade de Reggio Emilia tiveram a oportunidade de vivenciar esse evento e ver de perto uma cidade que trata a infância com prioridade. O intercâmbio foi a primeira ação de implementação do segundo ciclo (2013-2015) do projeto Paralapracá, e teve como objetivo sensibilizar e mobilizar gestores dos municípios parceiros para a causa da infância, a partir do compartilhamento de experiências na cidade italiana.

Participaram do intercâmbio representantes das cinco cidades que integram o segundo ciclo do projeto Paralapracá: Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda. Também estiveram presentes representantes dos municípios de Jaboatão dos Guararapes (PE) e Teresina (PI), que integraram o primeiro ciclo do projeto (2010-2012).

A solução que vem da crise

A história de Reggio Emilia é marcada pelos conflitos e crises que tomaram a Europa no século passado. De acordo com as educadoras, o caos que se seguiu à segunda guerra mundial foi contornado na cidade italiana pela união de esforços da comunidade e por iniciativas públicas, privadas e religiosas que deram prioridade à infância. “Com isso, surgiram creches dedicadas a cuidar das crianças que tinham sobrevivido ao conflito e, quase 30 anos depois, surgiu a primeira instituição laica dedicada à infância. Nela, os professores praticavam uma troca intensa de experiências, o que viria a marcar profundamente a educação infantil em Reggio Emilia”, contou Vanna Levrini.

Vanna, que é professora da escola de infância do Centro Internacional Loris Malaguzzi, destacou ainda o papel das mulheres nessa trajetória, por meio de um episódio emblemático do pós-guerra, quando membros da comunidade venderam um tanque para reconstruir o povoado. “Enquanto os homens desejavam a construção de um cinema, as mulheres optaram pela escola. Venceram as mulheres”, explicou.

Segundo Vanna, foi assim que começou a história de Reggio Emilia como a Cidade das Cem Linguagens, como é conhecida. “Esta construção foi a base de um futuro diferente para as crianças. Temos consciência de que nascemos deste gesto de solidariedade e participação”, afirmou.

Vanna e Paula falaram também sobre a grande influência do educador Loris Malaguzzi na história de Reggio Emilia. Ele defendeu o trabalho cooperativo, com compartilhamento de experiências, tornando a escola um organismo que pulsa como parte da comunidade, na qual professores, assistentes, cozinheiras, familiares, enfim, todos participam. De acordo com Paula, Malaguzzi deu enorme relevância à presença da arte na cidade, à estética do ambiente, à família e, por fim, trabalhou para tornar a cultura das crianças uma experiência visível ao público externo.

Uma questão de políticas públicas

Paula Strozzi ressaltou em sua apresentação a dificuldade que é manter a qualidade e a sustentabilidade da proposta pedagógica de Reggio Emilia. Segundo a educadora, é muito comum que os investimentos nas crianças sejam escassos, mesmo na Itália, o que torna urgente o comprometimento da sociedade civil na busca, junto ao poder público, pela elaboração, execução e manutenção de políticas públicas. “A educação é responsabilidade de toda a comunidade”, conclamou.

Durante sua exposição, a educadora detalhou como as instituições de educação são geridas em Reggio Emilia. Ela relatou que cada uma tem a liberdade de construir seu próprio projeto pedagógico, utilizando como base as diretrizes municipais. O principal investimento é do poder público, associado a fundos da comunidade, das famílias e de instituições privadas e religiosas.

A educadora lembrou que, em momentos de crise, as próprias instituições de ensino procuraram cortar custos, mas sem deixar de priorizar a qualidade do projeto pedagógico. “Não queremos tirar das crianças a beleza em nome de uma sustentabilidade financeira. A beleza não é riqueza, é cuidado. Acolher a criança em um ambiente belo é dizer a ela ‘vocês são importantes’”.

Por meio de slides, a educadora tornou tangível o que significa qualidade no projeto pedagógico de Reggio Emilia e explicou o quanto ela está ligada ao ambiente oferecido às crianças. Um dos pontos altos de sua fala esteve relacionado à utilização de materiais naturais como ferramenta de aprendizagem, em oposição ao paradigma de que a educação de qualidade depende da disposição de muitos recursos. Paula ressaltou que as crianças aprendem pelo fazer, pelo manuseio desses materiais e pelo compartilhamento constante de experiências entre professores, familiares e educadores.

 

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