Bate-papo no AVA valoriza papel da leitura pela leitura
Olinda (PE) — “Literatura na educação infantil” foi o tema do terceiro bate-papo promovido no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do projeto Paralapracá. Desta vez a conversa foi com Ana Dourado, assessora do projeto Paralapracá em Olinda, e aconteceu na noite de 27 de maio. Historiadora e especialista em literatura para crianças e adolescentes, Ana tem longa trajetória na coordenação de programas e projetos nas áreas de infância, adolescência e leitura.
O “encontro” durou pouco mais de duas horas e reuniu cerca de 40 pessoas, entre assessoras e supervisoras do Paralapracá, coordenadoras pedagógicas e técnicas das secretarias municipais de Educação integrantes do projeto. Os assuntos foram muitos: a escolha dos livros, a importância do texto escrito, o tom e a força da narrativa, a literatura no cotidiano da escola, a formação leitora das crianças, a paixão e o prazer em ler. Bom sinal para o começo do próximo eixo do projeto Paralapracá, que é dedicado à literatura.
No início da conversa, Ana falou sobre a importância da contação e da leitura de histórias para crianças. Em resposta à coordenadora pedagógica Aionan de Paula, que pediu sugestões para quem tem dificuldade em realizar uma contação de histórias, a assessora afirmou: “As crianças aprendem com um modelo de leitor, captando a entonação, as pausas, a posição, os comentários que os adultos fazem ao ler, para logo imitá-los em atividades de simulação de leitura. Mas essa aprendizagem deve mesmo ser por prazer, deleite, sobretudo na leitura literária. A professora deve passar esse prazer mostrando que gosta da história. É muito importante conhecer bem os livros que dão prazer às crianças”.
A temática do prazer na leitura literária pautou outros questionamentos e muitas observações de Ana durante a conversa. A assessora do projeto Paralapracá Iany Bessa, que atende ao município de Maracanaú (CE), foi uma das participantes a frisar a relevância do tema: “O importante é que seja prazeroso, que a criança se sinta bem e compreenda grande parte da história, não é mesmo?”. Simone Almeida, gerente de educação infantil de Olinda, ponderou: “Às vezes, acho que a leitura só é ofertada às crianças com o objetivo de se realizar alguma atividade. Pouco há na oferta da leitura apenas por prazer e deleite”.
Em resposta, Ana argumentou que não se deve recorrer à literatura de forma utilitarista. “Podemos até fazer várias atividades, mas ler é o que conta mais na hora de se aproximar de um bom livro de literatura”, disse. “A questão das atividades serve para pensar até em algo mais lento, cada dia explorando um aspecto do livro, trabalhando palavras importantes, conteúdos que façam parte do cotidiano da criança. Mas temos que ler pelo prazer da leitura mesmo. Principalmente quando podemos nos dedicar a grupos pequenos ou individualmente com as crianças”, afirmou.
Segundo a especialista, as crianças, assim como os adultos, encontram nos livros uma forma de escapar da realidade. É por meio da escuta e da memorização de histórias que não são reais que as crianças aprendem a linguagem dos livros, incorporando outros tipos de discursos escritos à sua vida cotidiana. “Muitos estudos mostram que uma leitura diária e um começo precoce, no segundo ano de vida, permitem às crianças um contato com a linguagem formal dos livros e com o texto escrito que as motiva a aprender, ao mesmo tempo que condiciona suas aprendizagens posteriores”, disse Ana.
Sobre a literatura inserida no cotidiano da educação infantil, a assessora afirmou que a contação de histórias deve se dar de maneira diversificada. “Há momentos em que estabelecer um ritual semanal ou duas vezes por semana, para que todos saibam que vão ouvir uma história juntos, é legal. Mas também é importante ter os cantos de leitura de forma a proporcionar acesso autônomo aos livros e que as crianças tenham como ouvir histórias de maneira mais individualizada, em pequenos grupos”, ensinou.
O que ler para as crianças? É ampla a lista de sugestões, afirmou Ana, escolhendo algumas delas para encaminhar o bate-papo: “Os [livros] do Paralapracá são muito bons. Para as crianças pequenas, Bruxa, bruxa [de Arden Druce, Editora Brinque Book, 1995] é um bom exemplo. Para as maiores, os livros do Daniel Munduruku. Há muito boas dicas no livro Do ventre ao colo [de Ninfa Parreiras, RHJ Livros, 2012] para crianças pequenas. Quanto mais elas vão crescendo, mais podem curtir todo tipo de leitura, até livros mais densos. O Mágico de Oz [de L. Frank Baum, várias edições] é um livro enorme, mas tem belas edições resumidas e é bem atraente”, exemplificou.
A relação de livros que compõem o Baú Paralapracá pode ser acessada no link https://paralapraca.avante.org.br/index.php/relacao-de-livros-de-literatura-infantil-que-compoe-o-bau-do-paralapraca
Outro assunto explorado no bate-papo foi a importância da reflexão das professoras sobre a formação leitora das crianças. Ana pontuou que o primeiro passo para essa formação é tornar as professoras leitoras. “Se alguém diz que não gosta de literatura, procure descobrir se ela gosta de novelas. Acredito que vai ter uma resposta positiva. E que tal começar a recomendar que essa pessoa leia algo que tenha sido adaptado para uma novela?”, questionou.
“Acho que, como diz Antonio Candido, o ser humano tem necessidade de literatura, como de outras coisas que estimulam os sentidos. E isso porque gostamos de narrar nossas próprias vidas”, argumentou Ana, referindo-se ao sociólogo e mais famoso literato brasileiro.
“Precisamos nos contar histórias. Apenas a leitura talvez não tenha sido estimulada na hora certa, mas sempre há um começo e podemos começar pelo que interessa à pessoa”, disse.
Os bebês e a leitura
Solange Silvestre, gerente de educação infantil da Secretaria Municipal de Educação de Maracanaú, levou ao bate-papo o tema da leitura para bebês, perguntando a Ana Dourado quais estratégias podem ser pensadas para que os adultos vivenciem com os bebês a magia da literatura. Em sua resposta, Ana ofereceu dicas e recomendou livros para as participantes.
Confira a íntegra de sua mensagem nas linhas a seguir:
“Recomenda-se colocar o bebê ao longo do ventre, deitar com a cabeça em posição mais alta, e ler uma história curta. Livros como A casa sonolenta [de Audrey Wood, Editora Ática, 2009], Bruxa, bruxa, O sapo bocarrão [de Keith Faulkner, Cia. das Letrinhas, 1996], que estão no kit Paralapracá, podem ser lidos dessa forma para os bebês. Mas há muitos outros livros (ver livro Do ventre ao colo, há muitas referências) que possuem uma narrativa curta, com sonoridade apropriada aos bebês e escritos de maneira poética, na linguagem própria à literatura, que podem trazer ao bebê a sensação de aconchego, prazer, acolhimento, alimentando o vínculo afetivo com o adulto que lê a história.
Muitas vezes, essa leitura chega muito próxima de um acalanto e pode ser acompanhada de sons diferentes e de canções, pois sabe-se que a sonoridade vai direto ao coração da criança, criando uma interação da qual ela precisa para estar no mundo e sentir-se protegida. Mais tarde, cada vez mais, a criança irá interagir com a narrativa e poderá responder a perguntas, nomear imagens e também será estimulada a fazer observações sobre a história. Como diz Ninfa Parreiras em seu livro Do ventre ao colo, ‘não há uma regra para a aproximação entre bebês e livros. Há a sensibilidade do adulto cuidador de improvisar, recriar e inventar histórias’”.
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