Da Mala Paralapracá à Mala Mágica
Caucaia (CE) – A Rede Municipal de Caucaia foi parceira do projeto Paralapracá no primeiro ciclo do projeto (2010-2012). Hoje, atuando de forma autônoma, a Secretaria Municipal de Educação (Semed), contando com a mobilização das coordenadoras pedagógicas que participaram do projeto, busca formas de dar continuidade às iniciativas que contribuíram para a melhoria da qualidade da oferta da Educação Infantil no município. Entre elas, a aquisição de uma Mala Mágica para todas as instituições da rede, que teve como referência a Mala Paralapracá.
“Nós procuramos escolher os mesmos livros da Mala Paralapracá ou tê-los como referência”, conta Maria Jotacília Rocha, técnica do Núcleo de Educação Infantil da Semed de Caucaia. A Mala Mágica foi distribuída para 126 instituições de Educação Infantil da rede e está sendo usada em experiências de leitura, dando continuidade às vivências sugeridas pelo eixo Assim se Faz Literatura.
“Com a mala, os professores encontraram suporte para realizar projetos de leitura nas suas instituições e proporcionar às crianças o privilégio de conhecer e manusear livros de acordo com a faixa etária”, diz a técnica da secretaria. Segundo Maria Jotacília, são mais de cem livros literários e entre eles livros de tecido, feltro, de banho e de diversos tamanhos. Além das publicações, a rede passou a disponibilizar fantoches para as instituições.
O projeto Paralapracá é uma ação do programa Educação Infantil do Instituto C&A, implementada em parceria técnica com a ONG Avante – Educação e Mobilização Social, de Salvador (BA). O projeto se desenvolve em dois âmbitos de atuação: a formação continuada de profissionais de educação infantil e o acesso a materiais de uso pedagógico de qualidade, tanto para crianças quanto para professores. As formações abrangem seis eixos estruturantes do currículo da Educação Infantil, entre eles o Assim se Faz Literatura. Os educadores são estimulados a compartilhar valores, cultura, história, imaginação e fantasia por meio das narrações orais e escritas, que têm um valor ampliado na infância.
Para o projeto Paralapracá, a tarefa dos educadores é propiciar às crianças a convivência com um mundo letrado, a partir da ampliação desse tipo de repertório cultural. Para fomentar tal experiência, o projeto apresenta estratégias e exploração desse universo narrativo, incluindo as narrativas orais e de tradição popular.
Na escola
Na zona rural de Caucaia (CE) a experiência do Centro de Educação Infantil (CEI) Elisbão é uma mostra dos efeitos da Mala Mágica nas instituições. Os livros têm sido utilizados para proporcionar momentos de contação de história com as crianças, mas também momentos de leitura com os pais e as crianças da creche.
“Nós fizemos exibição de vídeos do projeto Paralapracá para os pais, realizamos exposições e construímos brinquedos junto com eles”, conta Julia Costa, coordenadora pedagógica do CEI Elisbão. Julia foi uma das educadoras que participaram das formações. A coordenadora pedagógica leva consigo heranças do projeto Paralapracá que considera marcantes para o desenvolvimento do seu trabalho: “A criança deve aprender brincando e a brincadeira deve fazer parte do seu cotidiano; a música não deve ser usada para disciplinar, mas para promover o conhecimento de vários ritmos e sons e para o divertimento; na arte o importante é o processo pelo qual a criança passa, e não o produto. É muito importante que elas possam se expressar livremente. Além disso, elas devem conhecer pintores famosos e suas obras”, lista ao compartilhar a memória do que aprendeu.
Julia também guarda a importância de um ambiente bem organizado, com a participação das crianças e acessível a elas. Ou ainda, o importante papel da contação de histórias na condução da infância ao mundo encantado da imaginação. E com essas ideias ela passou pelo processo de mudança de instituição, com novos professores, nova estrutura e nova cultura institucional, e prosseguiu na tarefa de proporcionar às crianças o que aprendera por uma Educação Infantil de qualidade.
Com os pais
Com a Mala Mágica, a coordenadora pedagógica mergulhou no mundo das leituras infantis e levou com ela, além da equipe de educadores e as crianças, as famílias. “Observamos que nos momentos de leituras os pais ficam encantados com o acervo de livros e se tornam crianças outra vez. Ficam tão concentrados que não veem nem quando tiramos fotos e não se dão conta do tempo”, diz.
É esse encantamento, segundo Julia Costa, que faz com eles sempre retornem nos encontros seguintes, fortalecendo a participação dos pais na escola e o relacionamento com os filhos. A coordenadora pedagógica conta que no último encontro alguns pais relataram que, para eles, esse é um momento muito importante e prazeroso, pois não possuem livros em casa para ler com as crianças. “Eles diziam que nessa hora conseguiam se desligar das suas atividades e dar mais atenção a seu filho.”
Para as crianças, segundo Julia Costa, ficou a felicidade de ler junto com pais. “Elas querem mostrar e ler todos os livros para eles, e até pedem para levar para casa para ler com os irmãos. E assim vai sendo despertado o gosto pela leitura, por meio da familiarização das crianças com os livros e do favorecimento de um processo de leitura em família”, finaliza.
Os desafios e o segredo de seguir em frente
Julia Costa conta enfrentar muitos desafios para levar adiante a proposta do projeto Paralapracá. Entre eles, a instabilidade no quadro de educadores da rede, que provoca constantes mudanças de professores e do grupo gestor da instituição. “Eu comecei a participar do projeto em uma instituição, fui exonerada, fiquei afastada por um determinado período, depois fui nomeada para outra instituição na qual vários professores eram novos na rede. Essas mudanças atrapalham o trabalho que vem sendo desenvolvido na escola”, diz.
A técnica do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria, Maria Jotacília Rocha, concorda: “Há muitas mudanças no quadro de coordenadores pedagógicos”. Mas afirma que o projeto Paralapracá ainda é muito presente na rede, que ações são realizadas nas escolas em acordo com os princípios e os eixos formativos do projeto. “Os vídeos do projeto, por exemplo, ainda são utilizados como material formativo, mas não há a cultura do registro. Acho que este é o maior de todos os desafios. Não são feitos registros do que acontece nas instituições”, desabafa.
E o segredo, para ela, é o acompanhamento. Maria Jotacília se refere às visitas técnicas que são realizadas periodicamente pela equipe do projeto Paralapracá nas instituições atendidas e que fomentam maior aproximação das equipes das secretarias às escolas. Apesar do tempo apertado, em meio às grandes demandas administrativas, a técnica garante que as visitas às instituições continuam sendo realizadas, mesmo com menor frequência, pelas técnicas e que são feitos acompanhamentos individuais com as coordenadoras que procuram a secretaria.
Caucaia hoje possui cerca de 800 professores atuando na Educação Infantil do município. No período de 2010 a 2012, o projeto Paralalapracá atuou em 26 escolas, realizou formação continuada para 26 coordenadores pedagógicos, com ênfase em seu papel de formador. Estes, por sua vez, formaram 223 professores in loco, que impactaram na aprendizagem de 3.200 crianças.
Com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças na Educação Infantil, com vistas ao seu desenvolvimento integral, o projeto Paralapracá se desenvolve em aliança com secretarias municipais de Educação. O projeto está agora em seu segundo cicIo (2103-2015) com atuação em outros cinco municípios do Nordeste: Camaçari (BA), Maceió (AL), Maracanaú (CE), Natal (RN) e Olinda (PE). Além de Caucaia, o projeto atuou em outros quatro municípios ao longo do primeiro ciclo (2010-2012): Teresina (PI), Jaboatão dos Guararapes (PE), Feira de Santana (BA) e Campina Grande (PB).
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